Eu quando menino gostava de brincar
Vivia no mato correndo, rasgando a roupa e na blusa grudava carrapato
Minha mãe vivia dizendo:
- Menino, sai de desse mato!
Nem ligava, brincar ali me dava prazer.
Até chegar minha fase de meninice de querer brincar de crescer
Era adolescência, época de paquera
Meus amigos arranjavam namorada, mas eu ficava ali na espera.
Pensava comigo:
- Sou o sonho que toda menina sonha em sonhar, sou romântico e tenho elegância, porém esqueci que muitos ligam para aparência.
Não sou lá muito bonito, tenho nariz achatado e cabeça oval. Ninguém olhava pra mim, por muitas vezes me sentia mal.
Esse mundo é cheio de aparências, ninguém sabe quem é quem.
O zé diz que é rico, mas o zé é um zé ninguém.
Me apaixonei por Margarida, cabrocha linda que é danada, moça bonita, de família, bem afeiçoada.
Acho que ela olhou pra mim, será que quer namorar? Meus olhos brilhavam um tanto assim, tinha acabado de me apaixonar.
Tentei aos poucos de Margarida me aproximar, ela era mais linda que todas as flores de todo lugar.
Seu cheiro doce se espalhava por todo jardim enquanto minha narinas tentavam sugar todo seu aroma pra mim.
Recolhi do jardim uma bela duma flor, não tão bonita como Margarida minha menina, sou sonhador.
Ela sorriu, um sorriso tímido, acanhado. Fui ao céu e voltei. Acho que o tempo estava nublado, pois meus olhos estavam molhados.
Ela sorria com olhos e olhava com os lábios e eu ao seu lado todo desajeitado.
Com as mãos trêmulas devagar peguei em sua mão e disse:
- Moça bonita igual a senhorita não tem por essas bandas não
Segurou em minhas mãos e disse:
- Qual é o seu sonho?
E com toda certeza-vergonha-esperança deste mundo lhe respondi:
- Com todo respeito namorar a senhorita.
Sua face ficou encabulada com expressão de desentendimento e perguntou-me:
- Você namoraria mesmo comigo?
- Acredite, acabei de encontrar o amor da minha vida!
Ela saiu andava com passos lentos, não olhou para atrás. Fiquei com cara de interrogação e confesso que não entendi foi nada, só sei que aquilo doeu por demais aqui dentro, era uma dor tão forte que quase num guento. Fiquei sem vê-la durante sete anos,um bom tempo, mas meu coração nunca havia esquecido aquele sorriso meigo que até hoje em meus sonhos contemplo.
Guardei aquele rosto em meus pensamentos jurando para o meu coração que aquele coração em forma de flor seria meu. Que a amaria para sempre, mas parece que ela de mim se esqueceu. Meu sonho era encontrar Margarida e fazer-lhe apenas uma pergunta:
- Qual é o seu sonho?
Mais uns anos se passaram e algo me dizia para ir visitar aquele jardim que já não era tão colorido assim. Virou cimento bem do jeitinho que a imagem dela se concretizou em mim. Com meus olhos perdidos no acinzentado lugar me deparo com Margarida meu amor andava por lá. Meu coração disparou, parecia que dá boca ia pular,fui ao encontro de Margarina e minhas mãos em seus ombros acabara de tocar. Ela congelou e disse:
- Porque veio atrás de mim?
-Só quero lhe fazer uma pergunta. Respondi.
- Você me consegue ver a janela de minha alma? Disse Margarida virando-se, olhando fixamente pra mim.
-Será que consegue ver a janela de minha alma?
Chorei e o tempo não estava nublado.
Perguntei-lhe:
- Qual é o seu sonho?
Margarida:
- Poder te ver!
Estava chovendo em meu rosto e ficou tudo nublado e ensolarado ao mesmo tempo. Amei aquela menina que havia se tornado mulher com todas as forças que haviam dentro do meu peito tomando a maior decisão do mundo.
-Você vai me ver! Eu disse.
Margarida e eu estamos casados há 10 meses, ela espera um filho meu e pode ver. Ela me ama mesmo com nariz achatado e cabeça oval e eu, ah eu eternizei sua última imagem, seu último sorriso em minha memória e agora meus olhos são dela. Agora ela pode me enxergar e eu só tenho olhos pra ela.
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